A nossa sociedade está se transformando de maneira muito rápida, em diversos âmbitos, e muitos desses processos foram impulsionados pela tecnologia. Apesar da alta demanda neste setor, há um gap racial, principalmente nos cargos de gerência. Além disso, a maioria dos postos de trabalho ainda são ocupados por pessoas brancas.
A notícia boa é que, como esse é um mercado em constante ascensão, é possível que as empresas revertam esse quadro dando mais oportunidades para pessoas pretas. Em 2022, dados do Ministério do Trabalho e Previdência mostraram que pessoas negras com carteira de trabalho assinada caiu de 51% para 45%.
Outro impasse relacionado ao setor está ligado à formação de profissionais qualificados anualmente. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscon) estimam que as empresas de tecnologia demandem 797 mil talentos de 2021 a 2025. Contudo, com o número de formandos aquém da demanda, a projeção é de um déficit anual de 106 mil talentos – 530 mil em cinco anos.
Pode parecer clichê, e é preciso reforçar: ter mais diversidade no dia a dia é bom para os negócios. Uma pesquisa da Harvard Business Review revela que 45% das pessoas que trabalham em empresas que acolhem a diversidade disseram que a participação de mercado cresceu em relação ao ano anterior e 70% afirmam que a organização conquistou um novo mercado.
Vale lembrar que, no Brasil, 56,2% da população se autodeclara preta ou parda, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, executivos negros são menos que 5% entre as 500 maiores empresas do país.
Soma-se a isso o fato do preconceito no dia a dia dentro das corporações também. A pesquisa Potências Negras TEC, realizada em outubro de 2022, aponta alguns obstáculos. O estudo ouviu 1.427 pessoas, 69% pretas e 21% pardas, das quais 83% afirmam já ter sofrido discriminação no ambiente corporativo por colegas de trabalho.
Além disso, há barreiras estruturais que limitam a mobilidade ascendente dos profissionais negros. Estereótipos arraigados, preconceitos inconscientes e discriminação racial persistem em muitas empresas de tecnologia, dificultando o acesso desses indivíduos a promoções e oportunidades de liderança.
Outro fator relevante é a falta de redes de apoio e mentoria para profissionais negros na indústria. As redes profissionais são fundamentais para o desenvolvimento de carreira, mas muitas vezes são dominadas por pessoas brancas. Isso cria uma falta de modelos e mentores para os profissionais negros, tornando mais difícil para eles avançarem em suas carreiras e alcançarem cargos executivos.
Não à toa, a pesquisa “Quem Coda o Brasil”, realizada pela PretaLab – uma iniciativa que estimula a diversidade no universo da tecnologia, desenvolvida em parceria com a consultoria global de software ThoughtWorks, aponta que 32,7% dos times de tecnologia não tem nenhuma pessoa negra. Em 68,5% das análises, os negros representam um percentual máximo de 10% na formação das equipes de trabalho.
Em um país estruturalmente racista, é preciso dar mais espaço para profissionais pretos, para que eles possam contribuir com o progresso de um país que está cada vez mais se destacando no mundo tecnológico e desenvolvendo projetos de ponta. É necessário um compromisso sério e duradouro de todas as partes interessadas envolvidas – empresas, instituições de ensino, governos e a sociedade. Somente por meio de um esforço coletivo e contínuo será possível promover uma mudança real e criar um setor de tecnologia mais inclusivo e equitativo. O tech também pode ser black, fica a dica.